fila do busú
naquele tempo passou cris castro pelas searas do terminal praça rui barbosa esperando que alguma nave da transcal viesse à arrebatar-nos, povo eleito que ora somos, quando uma senhorinha bem no estilo "minha senhora" se aproxima como quem pede informação: - moço... vou ficar aqui por perto do senhor, pois pode ser que aqueles pivetes na fila do morada do vale tenham um revólver escondido pra roubar minha bolsa. detalhe, por quatro pivetes lia-se "adolescentes negros". os meninos usavam boné do tipo "aba reta", todos os 4 e vestiam essas roupas de agora comuns ao gosto da gurizada: camisetas raglan da linha diamond supply, dgk, óculos wayfarer, tênis da dc shoes , coisas do tipo, não sei ao certo. fato é que estavam imersos em um colóquio provavelmente sobre a última versão do gta, red dead redemption, mc gui ou mesmo sobre alguma inesquecível e tesuda colega da sétima série, daquelas por quem aos 13, derramávamos rios de esperma embora jamais tivéssemos culhões para lhes dirigir sequer um olhar. nossas colegas da sétima série serão um fardo à carregar existência afora. quer aos 40 ou 60, as transportaremos como a mulher em milhares. elas jamais saem de dentro de nós. para o quarteto de mc's na fila do morada do vale, que se abasteciam e se retroalimentavam das mesmas cores, interesses e códigos de pertença, nós os entes estacionários do exército de reserva lhes éramos num terminal de ônibus, vultos exógenos e absolutamente desinteressantes. eu, o vendedor de halls e clorets, o picarro perdido do aposentado, seu rádio de frequência modulada transmitindo grêmio e nacional de medellin e não obstante, a bolsa cafona da vizinha. naquela plataforma de embarque para o vácuo que pesa a pálpebra, os quatro funkeiros do apocalipse sob as tintas esquizofrênicas da titia, eram o único vestígio de vida possível. que diabos haveria de mal em nos roubar? desperto da letargia acometido por um insight irretorquível e sagaz como esquiva de roque marciano: - minha senhora, a única hipótese plausível de assalto são os meninos roubando vosso septuagenário coração.
